Irineu, que veio junto com Ney Franco naquele pacote de jogadores do Ipatinga, representando possivelmente a mais brutal reparação histórica possível pra cada mineiro que já pagou mais caro num mate ou num coco em qualquer praia carioca.
Wellington, jogador formado no clube e que nos lembrou que não é só craque que o Flamengo faz em casa. Produzimos também jogadores bons, jogadores medianos e, por que não, atletas de qualidade totalmente duvidosa, como esse zagueiro que surgiu num período muito complicado da história rubro-negra e fez sua parte pra que ele se tornasse mais complicado ainda.
Gustavo Geladeira, Fernando MMA, Valdson Careca, Rodrigo Arroz, César “na verdade sou goleiro” Martins, Donatti, Fricson Erazo, Dininho. Todo torcedor rubro-negro tem aquele zagueiro de anti-estimação, aquele defensor que mora nos seus pesadelos, aquele beque que antes de ser citado precisa que se coloque na tela um aviso de gatilho, porque traumas podem vir à tona.
Porque ainda que o Flamengo tenha sim em sua história alguns dos melhores zagueiros do país e do mundo, com nomes que vão desde Domingos da Guia até Juan, passando por Aldair, Mozer, Gamarra, Rondinelli e Ronaldo Angelim, a verdade é que pra cada grande zagueiro que tivemos a o prazer de acompanhar, fomos obrigados a testemunhar no mínimo meia dúzia de Capitães Planeta do vacilo defensivo – “falta de tempo de bola”, “incapacidade no mano a mano”, “posicionamento horrível”, “não sei cabecear”: pela união dos seus poderes, eu sou Renato Santos!”.
Então em partidas como a de ontem, a vitória magra diante de um acuado Botafogo, em que o atleta mais eficiente do nosso ataque acabou sendo o reserva Cleiton, que atacou a cara do zagueiro adversário na briga pós-jogo, fazendo 1×0 no saldo de dentes, é preciso reconhecer o privilégio que é ter uma dupla de zagueiros como a composta por Léo Ortiz e Danilo.
Dois atletas de imensa qualidade, dois jogadores com nível de seleção brasileira – Danilo na verdade costuma ser capitão do escrete canarinho – e que não apenas oferecem uma segurança e uma qualidade incomum no setor defensivo como ainda são capazes de, num jogo estranho como o desta quarta-feira, decidir no ataque, como aconteceu no gol da vitória, em que Danilo escorou para Ortiz definir a partida.
Tivemos um cenário perfeito lá atrás? Não, como ficou claro na bizarra jogada em que fomos salvos do colapso por Guillermo Varela, que segue absolutamente alérgico à linha de fundo mas sempre com imensa dedicação defensiva. No segundo tempo o Flamengo cometeu diversos erros e nos dois tempos não conseguiu atacar com a eficiência que se precisa.
Mas ainda que nosso padrão de exigência claramente tenha subido nos últimos anos – como esquecer da experiência quase religiosa que era ver Rodrigo Caio e Pablo Mari imbatíveis como dupla de zaga – a verdade é que é sim um privilégio, poder acompanhar, com o manto rubro-negro, a melhor dupla de defensores do país. Quem estava lá em 2007 pra ver Irineu ao lado de Thiago Gosling sabe do que eu estou falando.
João Luis Jr. é jornalista, flamenguista desde criança e já viu desde Walter Minhoca e Anderson Pico até Adriano Imperador e Arrascaeta, com todas as alegrias e traumas correspondentes. Siga João Luis Jr no Substack.
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